Fernando Rabelo no MAGEM


Fernando Rabelo, mineiro, dono de um vasto currículo, despertou para fotografia na França, durante o exílio do pai. Fez curso de fotografia em Paris e iniciou sua carreira captando flagrantes do cotidiano da cidade luz. Trabalhou durante doze anos como fotógrafo do Jornal do Brasil e depois como editor de fotografia. Além de ter atuado nos jornais Folha de São Paulo e O Globo. Nos anos de 2005 e 2006, Rabelo realizou o ensaio fotográfico “Imagens de um Flâneur Brasileiro em Paris”. Retratou a Musica Popular Brasileira na década de 90. Em 2000 editou o livro "Tributo à Lagoa", uma coletânea de imagens de sua autoria sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro.

Nessa entrevista concedida ao MAGEM, Rabelo conta sua história, opina e fala da restrição do mercado de trabalho para o fotojornalista decorrente do surgimento da fotografia digital. Segundo Rabelo, ”as redações vão manter um quadro mínimo de fotógrafos, provocando uma enorme onda de desemprego”.

Imagens de um Flâneur Brasileiro em Paris
© Fernando Rabelo

MAGEM Como surgiu seu interesse por fotografia?

FERNANDO RABELO O meu interesse pela fotografia surgiu na juventude, ainda adolescente ganhei uma câmera dos meus pais. Aos quatorze anos já havia decidido seguir a carreira de fotógrafo. Além disso, o primeiro contato com o jornalismo foi dentro de casa na figura do meu pai, José Maria Rabelo, que fundou o jornal Binômio, em Belo Horizonte. Mas estes não foram os únicos fatores que influenciaram a minha escolha.

MAGEM O contexto político e social da época em que o senhor iniciou como fotógrafo exerceu alguma influência?

FERNANDO RABELO Fui testemunha ocular de alguns fatos importantes da História recente quando, na época em que o meu pai foi exilado, no Chile, presenciei a vitória de Salvador Allende e o golpe militar que o derrubou em 1973. Era um adolescente de 11 anos e assisti, de cima do telhado da casa onde morava, o bombardeio do Palácio de La Moneda, onde morreu o Presidente chileno. Essas e outras imagens, que estão registradas até hoje na película do meu cérebro, me influenciaram profundamente na vontade de denunciar através da imagem o que eu considerava errado em nossa sociedade.

MAGEM O senhor morou durante alguns anos e cursou fotografia em Paris, considerada a “capital da fotografia mundial”. Qual a representatividade da cidade francesa em seu trabalho?

FERNANDO RABELO Depois do golpe militar no Chile, eu e a minha família nos mudamos para Paris. Tinha 14 anos e ganhei uma câmera fotográfica dos meus pais. Ali comecei fotografando a cidade luz em preto em branco, as passeatas estudantis, o despejo dos últimos moradores de uma favela em Massy, nos arredores de Paris, etc...

MAGEM Como surgiu a idéia de fotografar Paris como um “flâneur"?

FERNANDO RABELO Essa história começou em 2005, quando exercia o cargo de editor de fotografia do Jornal do Brasil. A minha mulher, que é jornalista, conseguiu uma bolsa de estudos de um ano na França para concluir seu doutorado em Letras. Aceitei o desafio, pedi demissão do JB e fui com mulher e filho morar na França, pela segunda vez. Aproveitei o meu tempo e percorri a cidade como um "flâneur", desvendando becos, ruas, igrejas, pontes e personagens de uma Paris popular e cosmopolita. O termo flâneur se refere àquele que caminha tranqüilamente pelas ruas, observando cada detalhe, sem ser notado, sem se inserir na paisagem.

Imagens de um Flâneur Brasileiro em Paris
© Fernando Rabelo

MAGEM Como foi essa experiência depois de mais de 20 anos atuando no fotojornalismo, no qual o tempo é elemento fundamental?

FERNANDO RABELO Como flâneur, pude não só retratar Paris a partir de ângulos inusitados, como experimentar outra relação entre o tempo e a imagem fotográfica, houve momentos em que passava o dia flanando e voltava para casa sem nenhuma imagem. No dia seguinte, eu retornava aos mesmos lugares e realizava as fotografias, onde eu podia esperar pacientemente o melhor momento, a melhor luz, o instante mágico. Para mim, a possibilidade de fotografar sem tempo determinado foi um fator decisivo no resultado do trabalho.

MAGEM Como o senhor analisa a prática do fotojornalismo hoje?

FERNANDO RABELO Vivemos numa sociedade saturada de imagens, onde qualquer leitor de jornal torna-se um fornecedor de imagens. Essa prática é incentivada por quase todos os periódicos do mundo. Se um edifício pegar fogo, em poucos minutos os jornais passam receber dezenas de imagens de fotógrafos amadores munidos de câmeras digitais e celulares. O assessor de imprensa, que até alguns anos atrás contratava fotógrafos para a cobertura de um evento, carrega uma câmera e ele mesmo fotografa e envia para as colunas sociais. Os repórteres de vários sites escrevem a matéria e fotografam também. Quando ingressei no JB em 93, éramos 40 fotógrafos. Em 2005 restaram apenas sete. Sem falar das agências que inundam o mercado editorial com imagens a preços não competitivos para os fotógrafos. O mercado de trabalho para o fotojornalista está sucumbindo ao surgimento da fotografia digital.

MAGEM O senhor acredita que a fotografia digital é o fim do fotojornalismo?

FERNANDO RABELO Eu não acredito que a fotografia digital provoque o fim do fotojornalismo. O mercado de trabalho para fotojornalistas é que está chegando ao fim. As redações vão manter um quadro mínimo de fotógrafos, provocando uma enorme onda de desemprego. O fotojornalista terá que se adaptar a essas novas condições, inclusive procurando outras formas de subsistência.

MAGEM Recentemente, uma fotografia de Evandro Teixeira foi veiculada e manipulada sem autorização do mesmo. Como o senhor avalia a preservação dos direitos autorais no Brasil?

FERNANDO RABELO A questão dos direitos autorais é um problema muito sério, sobretudo na Internet. É impressionante a quantidade de fotografias que circulam na web sem a devida creditação. É hora de agirmos de alguma maneira.

MAGEM Qual foto de sua autoria considera mais importante?

FERNANDO RABELO Essa é uma resposta difícil para um fotógrafo responder...

MAGEM Em que projeto o senhor está trabalhando atualmente?

FERNANDO RABELO Estou concluindo um projeto que será exibido no Oi Futuro, no Rio, em dezembro. Por enquanto só posso afirmar isso.

5 comentários:

Catarina Diniz disse...

Esse cara têm importância no cenário da fotografia nacional, sobretudo jornalística. Aprendo muito com o blog dele e agora tb com o Magem.

Muito bom!

Carlos disse...

Desanimador saber que uma profissão (fotojornalista) tão humana está em decadência. Acredito em uma virada...

Pires disse...

Essa exposição da França deve ser muito linda!

Ilana Copque disse...

Muito legal conhecer um pouco mais sobre o fotógrafo que nos mantem constantemente informados a respeito dos acontecimentos fotográficos no Brasil e no mundo.

Parabéns pela entrevista, MAGEM.

Ilana Copque disse...

http://www.labfoto.ufba.br/

Cicílio.. este é o site que te falei.
Abrs