Entrevista com o fotógrafo-filósofo Marcos Cesário

"Minha busca é pelos valores"

Por Louise Farias
Fotos: Emerson Rocha

O fotógrafo–filósofo Marcos Cesário conta um pouco da experiência e dos conhecimentos obtidos durante a produção das fotos da exposição “Enquadrados”, no Conjunto Penal de Juazeiro durante o primeiro Semestre desse ano. Cesário revela a troca e as redescobertas que houve entre ele e os internos durante os cinco dias em que esteve em contato direto com os presos.




Louise Farias - Como você definiria a Exposição “ENQUADRADOS”?

Marcos Cesário - Um auto-retrato. Uma fotógrafa norte americana diz que todo retrato é um auto-retrato, então essa exposição é uma forma de me retratar. Não consigo ver diferença em qualquer outro trabalho que eu tenha feito. Eu, Emiliana Carvalho e Maisa Antunes entramos lá para nos rever neles. Então pra mim é muito tranquilo a identificação. Me vejo neles, é uma forma de me retratar . Por um acaso eles tiveram um pouco menos de sorte que eu; por enquanto.


LF - O que te levou a escolher essa temática?

MC - O filósofo do meu coração é Oscar Wilde e há uns cinco anos, em contato com um livro dele, me deparei com um fragmento que me chamou muito atenção e dizia: “dentro de nós o tempo não prospera, regressa”. Conversando com Maisa, eu vi que o Conjunto Penal de Juazeiro poderia ser uma concretização desse desejo. A idéia é tentar mostrar com os retratos e com o curta-metragem essa humanidade e essa linha imaginária e estéril.




LF - Como artista qual o seu olhar sobre o público retratado? Sua visão mudou no decorrer do trabalho?

MC - Não, porque eu tento me munir muito pouco de princípios, minha busca é pelos valores. Oscar Wilde disse: “eu prefiro muito mais as pessoas a seus princípios”. Os princípios criam uma barreira e a gente acha um dentro e um fora, quando na verdade você deve buscar os valores e não os princípios adentro. Com a execução desse trabalho eu criei novas relações, e, é claro, a minha dimensão e o meu olhar se apurou muito mais, mas não radicalmente porque nós não entramos lá com nenhum preconceito. Até porque lá dentro tem reflexo de tudo aqui fora e vice-versa.


LF - Que tipo de intervenção o público retratado teve na construção dessa obra? Qual foi a contribuição dos internos?

MC - Foi completa, é um retrato e um auto-retrato. Então a troca de sentimentos e de redescobertas juntos foi o ganho maior. Agora existe uma intervenção deles que é quanto à moldura, foi uma produção deles, que é também uma forma de enquadrar o fotógrafo. Cada uma tem a sua personalidade na moldura, é uma forma deles dizerem: “olha só, nós temos nossa forma, nosso gosto, nosso enquadramento”. A contribuição maior foi sem dúvidas a de viver com eles cinco dias, na sela, comendo com eles, sonhando com eles e chorando com eles. E isso aconteceu de fato. Isso é um trabalho documental, é uma forma de investigação íntima, nós nos encontramos lá dentro, essa é a maior contribuição como homem, como mulher e ser humano.

7 comentários:

Lila disse...

O preconceito está muito presente no olhar das pessoas. Em uma nota publicada no blog de Carlos Brito, sobre essa exposição, existe um comentário que revela muito essa coisa da visão tapada e cérebro pequeno. Nesta entrevista o Cesário dá uma lição naquele que acha que deveria mostrar "pessoas mortas ou lesadas por esses bandidos".

Meu ego disse...

Falta humildade no Cesário para que o trabalho dele não seja ofuscado pelo próprio. Achar que tudo se resume em Wilde é crônico.

Humildade disse...

Acho que as molduras falam pela exposição que seria FOTOGRÁFICA...

Belém disse...

Realmente as molduras, apesar da proposta, devem ser repensadas. Gostei de 2 fotografias.

Carlos disse...

"[...]é no cérebro que a papoula é vermelha, a maçã é cheirosa e a cotovia canta".

Wilde

Pedro Alves disse...

Covardes só atacam anonimamente e em bandos.

Na abertura da exposição "Enquadrados" Cesário estava à disposição como sempre de críticas francas e corajosas. Aos que o condenam de usar Wilde para ilustrar os seus pensamentos mostrem algo original além da pouca erudição e inteligencia e de críticas covardes feitas sempre ao anonimato.

Cezar disse...

Pedro, aqui também é um espaço de opiniões. Não acho isso covardia. Acredito que toda crítica é válida, por mais ignorante que seja. A sabedoria está na humildade para recebê-las.

Sobre a mostra, vejo um cenário onde se processam atividades (com mérito, apesar de não ser essa a visão do autor). Não consegui vizualizar ali fotografias de pessoas.

Parabéns ao Magem e a todos os realizadores.